CLARK KENT / LEX LUTHOR
Pouquíssimas pessoas argumentariam que outro, senão Lex Luthor, é o grande nêmesis do Superman. O herói é um alienígena de outro mundo que quer ajudar seu novo lar utilizando seus poderes para o bem. Lex é o homem que construiu tudo com um insaciável desejo de ser adorado por ter perdido o posto de grande amor de Metrópolis. Há muita rivalidade e reviravolta entre estes dois durante 70 anos de quadrinhos.
Smallville conseguiu tornar esta rivalidade mais complexa e interessante. A decisão de conectar Clark Kent e Lex Luthor ainda jovens é uma das mais inspiradas decisões da mitologia própria da série. Os quadrinhos têm feito este tipo de coisa há algum tempo, mas nunca desta forma. Lembre-se que a rivalidade deles, originalmente, vinha da perda de cabelo de Lex causada pelo Superboy.
O seriado escolher construiu estes dois como amigos até que a separação eventualmente acontecesse após tanto desgaste e rivalidade. Além disso, o programa também ofereceu similaridades entre estes dois homens de formas nunca pensadas antes. A solidão é um tema recorrente em Smallville e ambos os personagens têm muito disso em suas raízes. O conhecimento de que, um dia, eles vão se tornar o maior inimigo um do outro só aumenta a aura de tragédia da série.
Para se ter uma ideia da importância desta relação, as duas últimas origens mais recentes do herói (Superman: Legado das Estrelas de Mark Waid e Superman: Origem Secreta de Geoff Johns) trataram deste tema, cada um a sua forma.
Sob muitos aspectos, a dinâmica Clark/Lex formou a coluna vertebral de toda a série. É por isso também que muito se perdeu desde que Lex partiu algumas temporadas atrás. Nenhum outro vilão recorrente – como Zod, Brainiac ou Apocalipse - conseguiu oferecer uma rivalidade tão pessoal e fundamental à jornada de Clark.
O ELENCO DE APOIO
A dinâmica Clark/Lex pode ser o coração de Smallville, mas isso não significa que devemos esquecer quem mais está lá. Os produtores fizeram várias alterações em alguns rostos familiares, assim como acrescentaram algumas novas, e provaram que a história do Superman não precisa estar sempre falando de Clark o tempo todo.
Muitas histórias de origem do Superman tendem a mostrar tanto Lana Lang como Pete Ross. Em Smallville ambos receberam muita atenção e Pete, em particular, emergiu como um personagem mais forte e mais complexo do que era mostrado anteriormente. Claro, os pais dele também se beneficiaram neste revamp, já que na série eles são mais jovens e vibrantes, tendo participação ativa na vida de Clark e acabam tornando-se interessantes em suas próprias formas.
Tanto Chloe Sullivan como Lionel Luthor foram novas adições à saga do Superman, e ambos foram muito úteis de formas diferentes. Chloe, que parecia antes de tudo apenas uma substituição qualquer para Lois Lane, acabou sendo uma das personagens mais interessantes de todo o programa. Lionel funciona como uma expansão de um elemento antigo dos quadrinhos, pois sempre soubemos que Lex nunca teve uma infância boa e a participação dele aqui o transforma numa figura fundamental, bem como o responsável pela direção sombria que seu filho toma no futuro.
Com a perda de Lex, a transição de Smallville para a cidade grande e a substituição de muitos personagens principais por pessoas do Planeta Diário infelizmente acarretou numa queda de qualidade do programa. Smallville funcionava melhor quando Clark era pequeno, dependente de muitos amigos e inimigos.
HISTÓRIAS A LONGO PRAZO
Uma das razões pelas quais adoramos ler quadrinhos é o oferecimento de histórias construídas em cima de ideias anteriores. Edições individuais se combinam com arcos maiores; arcos maiores combinam o curso todo de um ou mais personagens e assim por diante.
Quando em seu melhor, Smallville seguiu uma forma similar de narrativa. Muitos programas de TV, ao contrário, são estáticos e não oferecem. No caso deste programa, muitos dos maiores conflitos demoraram muitas temporadas para se desenrolarem, em especial a fantástica rivalidade de Lex e Clark, cujo clímax foi acontecer na sétima temporada. Outros vilões como Brainiac e Apocalipse não ofereceram um background tão intenso assim, apesar de terem sido vilões importantes em alguns momentos.
Claro, não se engane: Smallville sofreu muito com narrativas pobres, plots bizarros e reviravoltas completamente bobas no decorrer dos anos. Muitas tentativas da série falharam miseravelmente. No entanto, em seus melhores momentos, o seriado soube trazer a força dos quadrinhos para a telinha. Assim como as histórias do Superman trazem leitores todo mês, o seriado também tem sua base de fãs fieis.
UM CLARK VERDADEIRO
Talvez a maior reclamação a respeito desa miologia é quanto ao próprio Superman: como alguém pode ser tão perfeito assim e conseguir contar boas histórias? Smallville conseguiu mostrar o outro lado disso, calcando num Clark Kent vulnerável em muitos aspectos da vida. Parte disso deve-se ao desenvolvimento ainda pequeno de toda a extensão de seus poderes, mas lá no fundo existe uma questão muito mais profunda. Clark é lento, passa por um processo muito dolorido.
A série não teve vergonha de trabalhar na metáfora das dificuldades da juventude – lembra-se de quando ele aprendeu a usar a visão de calor? Ou o quanto se sentia desconfortável perante seus pais por tantas coisas? Os desafios de Clark são maiores que o de qualquer pessoa, mas o núcleo do dilema é o mesmo. É por isso que podemos nos identificar, cada um à sua forma, com esta versão de Clark Kent.
De certa forma, Smallville conseguiu manter seu público fiel bem como o dos X-Men. Os fãs que amam os mutantes aforam o conceito do sofrimento deles em um mundo que ainda não sabe como aceitá-los, numa metáfora clara à dificuldade que temos de achar um lugar no mundo. Um Clark Kent moralmente conflitante e ocasionalmente errôneo acaba tornando-se mais interessante para o tipo de público ao qual ele é destinado. Todas as encarnações do personagem têm seus lugares e Smallville encontrou o sucesso explorando a sua própria versão por todos esses anos.
Fonte: Multiverso DC
7 de out. de 2010
Especial Smallville: O que o seriado fez de bom? (Segunda parte)
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